Dez anos antes de se despedir de Neymar, o Santos se mexia para recebê-lo. O clube sequer sabia disso, mas o jogador seria o principal resultado de uma revolução nas categorias de base santistas entre os últimos meses de 2003 e o início de 2004. Uma história que se inicia, curiosamente, com o sucesso da dupla Diego e Robinho. Foi graças a seus dois maiores heróis da época que a direção santista se mexeu para dar margem ao projeto que redundaria em um novo craque.
Marcelo Teixeira, ávido por preparar novas revelações para o futuro do Santos, cedeu aos apelos de Alberto Vieira, então chefe das categorias de base santistas. O trabalho de formação tinha início apenas no Sub-15, mas Alberto queria mais: aprovou, mesmo com orçamento baixo à época, a criação das categorias Sub-14, Sub-13 e também Sub-12. Naquele momento, jogadores dessa idade atuavam apenas no futsal. A ideia era antecipar esse processo nos gramados.
Projeto aprovado, Alberto Vieira, conhecedor nato do futebol de base na Baixada Santista, iniciou a captação para dar início às três equipes. Era essencial ter três referências, jogadores de maior projeção e a quem também poderiam ser concedidos alguns privilégios. O meia Serginho (90), o meia Alan Patrick (91) e Neymar (92) foram eleitos as referências. O primeiro, depois de rodar pelo interior paulista, foi recentemente contratado pelo Palmeiras. O segundo, negociado em 2011 com o Shakhtar Donetsk. Sobre o terceiro, é desnecessário fazer qualquer comentário.
Alberto Vieira, acompanhado de Zito, se encantou com Neymar. Ele já fazia estragos pelo time de futsal da Portuguesa Santista e, por conta disso, ganhou bolsa de estudos no Colégio Liceu São Paulo. Tudo para que pudesse disputar as competições entre as escolas da região. Alberto também aceitou fazer concessões: conseguiu um salário de R$ 450 e em maio de 2004 assinou o contrato de formação que daria início a tudo.
Não é exagero dizer que o Santos se revolucionou, indiretamente, para ter Neymar. Tampouco é exagero dizer que ele revolucionou a base do Santos. Aos 13 anos, em 2005, já era empresariado por Wagner Ribeiro e foi levado ao Real Madrid na esteira da saída de Robinho. O convite para permanecer surgiu, mas ele optou em voltar ao Santos. Recebeu salários acima da média, luvas e, principalmente, pouco a pouco partes de seus direitos econômicos. Até chegar a 40%, em 2009, que foram negociados com a DIS.
Utilizar esse recurso como contrapartida foi algo extremamente embrionário à época e que Neymar só conquistou graças a seu talento. Disputou a Copa São Paulo com 15 anos, estreou entre os profissionais aos 16 e vingou. Reforçou no clube a cultura de que os craques em potencial devem ser rapidamente lançados. Por isso é que Victor Andrade (95) e Gabigol (96), os maiores talentos da base, estrearam na equipe de cima já aos 16. Este último, por sinal, exatamente no dia da despedida de Neymar.
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